Raspberry Pi

Raspberry Pi no Brasil

* This post is in portuguese

Bom, finalmente chegou meu tão esperado Raspberry Pi, consegui efetuar a compra através de uma fila de espera (estou nesta fila desde o primeiro dia de Março de 2012) na Farnell Newark do Brasil que fez a importação de um (ou mais) lotes da Element 14 e agora está distribuindo aqui no Brasil. Como moro em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, o preço total (juntamente com frete) do RPi somaram R$ 182,22 reais, um valor bem acima do esperado para o “computador de $30 dólares”, graças ao nosso gentil governo que como todos já devem ter notado, usa uma EXCELENTE estratégia para incentivar a pesquisa científica, obrigando desta forma os brasileiros a construirem seu próprio hardware usando bambu ou Pau-brasil, mas isto é outra história.

O atendimento da Farnell Newark foi ótimo, a vendedora foi muito atenciosa e sempre respondeu meus questionamentos em um curtíssimo intervalo de tempo, logo após efetuar o pagamento, demorou apenas 1 dia para o aparelho chegar (foi despachado através da UPS). Segue abaixo uma foto dele (clique para ampliar):

Primeiros passos: cartão SD

A primeira tarefa que precisei fazer para fazê-lo funcionar foi a preparação de um cartão SD. Como não consegui encontrar em nenhum lugar que fui um cartão SD de 4GB eu utilizei um micro-SD da Kingston de 4GB (class 4). É importante sempre verificar a Wiki do projeto antes de comprar qualquer cartão SD ou dispositivo USB para o seu Raspberry Pi, pois lá você vai encontrar uma lista de periféricos que comprovadamente funcionam e os que ainda estão problemáticos. Eu aconselho a compra de um cartão class 4 pois houve relatos de problemas com alguns cartões class 10, mas se você já tiver um cartão class 10 não custa tentar a sorte, este é um problema que provavelmente já deve ter sido corrigido no Kernel do Raspbian.

Para preparar o cartão você precisa escolher antes uma distro Linux, eu escolhi o Raspbian que é um port do Debian Wheezy para arm otimizado para “hard float“, o que ajuda bastante na performance de aplicações que fazem bastante uso de operações de ponto flutuante. Além de ser Debian e ter toda a infinidade de pacotes disponíveis no repositório (no momento em que estou escrevendo já existem mais de 30 mil pacotes do Debian já compilados para armhf), ele está funcionando muito bem com todos dispositivos que utilizei até agora (mouse usb, teclado usb, card sd, ethernet, hdmi video/audio, etc.).

Fonte de energia (power supply)

Bom, após ter preparado meu cartão SD eu comprei uma power supply USB, esta da foto abaixo:

Carregador USB “importado”

Para ligar seu RPi você vai precisar de uma fonte USB de 5V com no mínimo 500mA de corrente disponível, não adianta tentar ligar seu Raspberry Pi na USB do computador.

Como nem tudo é tão simples, ao ligar meu RPi ele logo acustou no boot problemas com o módulo ethernet como este e meu teclado USB não funcionava. O RPi ficava simplesmente travado e sem conexão ethernet alguma, os LEDs nem acendiam.

Sempre desconfie da sua fonte de energia em primeiro lugar ao enfrentar problemas como este, ainda mais aqui no Brasil com todas essas fontes de energia USB “importadas”.

Meu primeiro reflexo foi verificar a voltagem que este power supply estava fornecendo, usando os contatos TP1 e TP2 da placa (você pode ver estes contatos como uns buracos na placa na imagem do RPi). O TP1 está ligado no Vin da fonte de energia e o TP2 no GND (terra) da fonte. Ao ligar o voltímetro, ele mostrou a voltagem abaixo:

Voltagem do carregador USB “importado”

Uma fonte de energia que supostamente deveria fornecer 5v estava fornecendo 5.44V, bem acima do limite de +5% ou -5% tolerado por muitos dispositivos USB como teclados, etc. o RPi possui um regulador de voltagem (SE8117T33) que faz a regulagem da entrada de 5V para 3.3V, este regulador tem o 1.1V como voltagem de dropout, ou seja, para que ele forneça um sinal estável de 3.3V ele precisa ter no mínimo 3.3V+1.1V = 4.4V de entrada, até aí tudo bem, pois estamos fornecendo 5.44V, o problema é que este regulador funciona para distribuição de apenas alguns componentes internos do RPi e não para os dispositivos USB e alguns outros componentes (o Vin da fonte é ligado direto aos periféricos USB), ao fornecer 5.44V ele está ultrapassando um limite de 5% que seria entre 4.75V e 5.25V. Este intervalo de voltagem é o ideal para o seu Raspberry Pi, é sempre importante checar se a sua fonte de energia está dentro deste intervalo e afastado dos limites superiores e inferiores. Um dos fatores que pode causar uma queda da voltagem da sua fonte é o próprio cabo micro USB, que acaba atuando como uma resistência, por isso é sempre bom ter um cabo de qualidade (e curto) e uma fonte de qualidade.

No fim da história tive que trocar minha fonte por uma da Samsung que eu já tinha (do Galaxy Tab P1000-L 7″), este da foto abaixo:

Carregador de celular Samsung

Ao trocar o power supply “importado” por este da Samsung (imagem acima), a voltagem agora ficou:

Voltagem do carregador USB da Samsung

Em estáveis 4.91V, dentro limite aceitável. Após esta troca, tudo passou a funcionar perfeitamente e sem nenhum problema. Fica então a dica para quem for ligar pela primeira vez seu RPi.

Eu testei também um carregador de iPad da Apple, que ficou também um pouco abaixo do esperado e decidi não usá-lo, segue a foto do carregador e a voltagem dele abaixo:

Carregador USB da Apple
Voltagem do carregador USB da Apple

 Finalmente boot !

Após todo este trabalho com o carregador, as coisas finalmente funcionaram corretamente e o RPi fez o boot sem problemas como no screenshot abaixo (estou usando uma TV LG de 42″):

Boot do RPi em TV LG (HDMI), clique para aumentar

O RPi tem processadores CPU e GPU realmente incríveis, o boot dele é rápido e a saída na TV ficou realmente muito boa em full hd.

uname no Raspbian

Para testar o processador ARM, que fica em um clock padrão de 700Mhz (você pode fazer overclock até 1Ghz, mas ainda não me aventurei sem um dissipador decente, mas você pode subir para 800Mhz com segurança) eu rodei os benchmarks do OpenSSL, seguem os resultados abaixo:

Benchmark do OpenSSL no RPi

Segue também screenshot do /proc/cpuinfo com os BogoMIPS:

/proc/cpuinfo

No Raspberry Pi (ao menos usando Raspbian) você pode escolher como será feito o split da memória RAM dele, o padrão vem com 128MB para CPU e 128MB para a GPU (processador gráfico), como eu não estou usando tanto o GPU por hora eu fiz um split de 224MB para o CPU e apenas 32MB para a GPU, para fazer isto você só precisa copiar o arquivo de boot em cima do que é utilizadao para o boot (start.elf) e faz um reboot, segue screenshot dos arquivos abaixo, note que o SHA1 do split de 224 é iguao ao do start.elf:

RAM Split (224MB CPU + 32MB GPU)

Após remover 4 dos 6 terminais disponíveis para liberar um pouco mais de memória, a minha memória ficou assim (rodando server do OpenSSH e sem ambiente X):

Memória do RPi após split da RAM

Fiquei muito satisfeito com este split, você ainda pode fazer outras coisas para liberar memória do seu RPi, como por exemplo trocar o OpenSSH pelo dropbear, etc. Aqui tem um ótimo artigo sobre isto.

Algo que não posso deixar passar também é o Python:

Python no Raspberry Pi

 

Arduino vs Raspberry Pi

Muitos vêem o Raspberry Pi como um concorrente fatal do Arduino, a percepção que tive porém foi muito diferente. Acredito que o Raspberry Pi vai ser um ótimo companheiro para o Arduino, você inclusive pode utilizar o Arduino na própria USB do Raspberry Pi ou usar alguma outra interface UART ou algo assim. Tenho muitos projetos em mente pra começar usando Arduino e Raspberry Pi, espero poder ter tempo de postar sobre eles aqui no blog. Para quem está ansioso para comparar o tamanho do Raspberry Pi com o Arduino, segue abaixo um comparativo entre o Duemilanove, o RPi e uma moeda de 1 real (não podia faltar hehe):

Arduino e Raspberry Pi lado a lado

Conclusão

Você provavelmente não encontrará no Brasil um hardware tão bem elaborado como o Raspberry Pi por estre preço (mesmo alto) de R$ 182,00. Recomendo o RPi para todo mundo que tem o mínimo de interesse, eu poderia ficar aqui falando muita coisa sobre o RPi, sobre os polyfuses usados no design dele, sobre a Gertboard que está por vir, sobre as distribuições disponíveis, etc. Logo farei mais alguns posts sobre os projetos usando o RPi também. Espero que tenham gostado da avaliação.